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“Ela” era ela mesma: Dilma

Foto: G1
Quando a Operação Lava Jato apreendeu o iPhone do executivo Marcelo Odebrecht, o conteúdo do aparelho intrigou os investigadores. A quantidade de siglas, iniciais, e códigos usados por Marcelo em suas anotações fizeram do equipamento uma espécie de Pedra de Roseta da Lava Jato, como escrevi na ocasião. Decifrá-lo equivaleria a entender os detalhes mais importantes do maior esquema de corrupção jamais visto na história da República.

Desde então, várias das anotações foram sendo paulatinamente esclarecidas, à medida que os procuradores e policiais federais as comparavam a outras provas. Na fase desencadeada ontem, com o mandado de prisão expedido contra o marqueteiro João Santana, finalmente os investigadores conseguiram trazer provas que corrobaram aquela que é a mais relevante – e ironicamente, a mais clara – anotação no iPhone de Marcelo: “risco cta suíça chegar campanha dela”.





                                                                   Foto: G1
Segundo o relatório da PF divulgado ontem, pelo menos US$ 3 milhões foram transferidos de contas ligadas ao Grupo Odebrecht na Suíça, por meio das empresas Klienfeld e Innovation, para contas da empresa Shellbill Finance, de João Santana e sua mulher, Mônica Moura. Santana foi o marqueteiro responsável pelas campanhas de Dilma Rousseff em 2010 e 2014. A investigação identificou quatro depósitos, relativos a um contrato fajuto assinado em julho de 2011, realizados entre abril de 2012 e março de 2013.
                                                                                Foto: G1

Depois disso, a empresa de Santana e de sua mulher recebeu mais US$ 4,5 milhões, em nove depósitos, de contas na Suíça da Deep Sea Oil Corp., uma offshore do operador Zwi Skornicki, preso na ontem pela PF. Os depósitos, feitos entre setembro de 2013 e novembro de 2014, tiveram como origem, de acordo com a investigação, a propina paga por contratos da Petrobras com a empresa que Skornicki representava, a Keppel. O caso foi relatado pelo delator Pedro Barusco, o ex-gerente de serviços da Petrobras subordinado ao ex-diretor Renato Duque, indicado pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

“Restou suficientemente evidente, com amparo nas provas produzidas pela investigação policial, que Mônica Moura e João Santana ocultaram recursos no exterior provenientes de atos de corrupção de agentes públicos da Petrobras”, afirma o relatório da PF. Tradução: o marqueteiro das campanhas eleitorais de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff recebeu dinheiro sujo, desviado de contratos da Petrobras, fraudados por executivos corruptos indicados pelo PT. Parte desse dinheiro veio de contas ligadas à Odebrecht na Suíça.



Não há, portanto, mais dúvida alguma sobre o significado da anotação “risco cta suíça chegar campanha dela”. “Ela” é ela mesma: Dilma Rousseff. “Campanha” é, por óbvio, uma referência à campanha eleitoral à presidência. As datas de depósitos provenientes de contas vinculadas à Odebrecht são compatíveis com pagamentos relativos às eleições de 2010 ou 2014 – caberá às investigações esclarecer de qual se trata. Os depósitos da empresa de Skornicki, em contrapartida, só podem ter relação com a campanha de 2014, em andamento nas datas em que eram feitos.



Há, por consequência, provas eloquentes de dinheiro sujo do petrolão na conta do marqueteiro da campanha de Dilma em 2014. Tramitam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quatro ações distintas contra a campanha dela em 2014. A mais importante é uma ação de impugnação da chapa Dilma/Temer, por abuso de poder político e econômico. O uso de dinheiro sujo, desviado da Petrobras, para pagar os serviços de Santana é um sinal evidente de que a campanha não foi feita apenas com contribuições legais e declaradas, como afirmou ontem o presidente do PT, Rui Falcão.



As consequências políticas da nova fase da Operação Lava Jato são as mais dramáticas possíveis. Caberá aos ministros do TSE tomar uma decisão com base nas novas provas recolhidas pela Lava Jato – e não há como ela ser favorável a Dilma. Mesmo que ele alegue desconhecimento da operação de lavagem de dinheiro (e nada indique que ela soubesse de algo a respeito), como candidata eleita, seu mandato está atrelado a legalidade no cumprimento da legislação eleitoral. Algum tipo de punição os ministros do TSE serão obrigados a estabelecer. A mais grave num caso dessas dimensões seria a perda do mandato.



Os processos contra Dilma no TSE eram considerados pelo PT problemas remotos diante do risco de impeachment no Congresso. Os petistas até começaram o ano respirando tranquilos. O deputado carioca Leonardo Picciani, venceu a eleição para a liderança do PMDB na Câmara dos Deputados, um cenário mais favorável a Dilma na escolha da Comissão Especial do impeachment. A própria presença do deputado Eduardo Cunha na presidência da Casa favorece o interesse dela. Enquanto Cunha manobrar para escapar da cassação e continuar a liderar a pressão contra Dilma, ninguém levará a sério o pedido de impeachment, pois Cunha não tem credibilidade nenhuma – no mínimo por ter mentido sobre suas contas no exterior.



Com João Santana no foco da Lava Jato, as ações contra Dilma no TSE passam a ter uma relevância maior até do que as suspeitas gravíssimas que pesam contra o ex-presidente Lula, que não consegue explicar de modo satisfatório sua relação com os imóveis de Atibaia, do Guarujá e com as empreiteiras da Lava Jato – em especial aquela para quem é acusado de fazer tráfico de influência internacional. Ela mesma, a Odebrecht. (G1)


Natan Mobuto

Radialista/Locutor na empresa TVNBN

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